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Artigo de síntese – Tertúlia 07/11/2020

Artigos de síntese - visam expor os assuntos e temas abordados nos debates presenciais, descrevendo os pontos de vista e argumentos expostos e trocados, e conclusões alcançadas. 


No passado dia 07/11/2020 decorreu uma Tertúlia Ingovernável por vídeo-conferência, onde o tema central foi a Eleição para presidente dos EUA de 2020.  

Na introdução do tema foi feita uma contextualização abrangente, não só da eleição presidencial mas também de todas as outras eleições e referendos a decorrer em simultâneo, das quais se destacam:


- Eleições para Governadores (mandatos 4 anos) em 11 Estados e 2 Territórios (Samoa Americana e Porto Rico). Dos 50 Estados, republicanos têm 27 governadores (+1 do que tinham) contra 23 dos democratas

- Eleições para a totalidade da Câmara dos Representantes (mandatos de 2 anos), estando os democratas perto de assegurar a maioria de 218 mas os republicanos com perto de 200

- Eleições para o Senado, 35 dos 100 senadores (mandatos de 6 anos), sendo que há um empate 48-48, mas os republicanos têm boas hipóteses de renovar a maioria ganhando as votações do Alasca, Carolina do Norte e Geórgia

- houve ainda eleições para Mayor, para líderes das tribos e também referendos tribais:

    ~ Os Oglala Lakota votaram a favor do uso medicinal e recreativo da marijuana;

    ~ Os Yurok votaram a legalização de mercados de canabis;

    ~ Os Oneida votaram a vontade de ver a sua língua Oneida reconhecida;

    ~ Os St. Regis Mohawk votaram para mudar de nome e chamarem-se a partir de agora Akwesasne Mohawk

- No meio disto tudo, também houve eleições presidenciais (mandato 4 anos) que opunham o candidato republicano e actual Presidente Trump ao candidato democrata e ex-vice-presidente Biden. É sobre essas eleições que nos iremos debruçar.

- Apesar de Trump reclamar a vitória, é certo que foi Joe Biden quem ganhou e irá presidir aos EUA nos próximos 4 anos. Biden tem 78 anos, é o presidente-eleito mais velho de sempre (tem 50 anos de vida pública escrutinável), é também o mais votado de sempre com mais de 74 milhões de votos, e é o 2.º presidente católico dos EUA - depois de Kennedy.

- Herda um partido democrata muito diverso, que vai da linha mais centrista de Jimmy Carter (a sua linha) até à linha socialista mais radical de Bernie Sanders e Alexandria Ocasio Cortez.

- Kamala Harris é uma californiana que vem dessa linha mais radical, e será a primeira mulher vice-presidente depois das tentativas falhadas de Geraldine Ferraro (com Walter Mondale em 1984) e Sarah Palin (com John McCain em 2008).

- Joe Biden era amigo precisamente de John McCain, com um histórico de moderação, cooperação e acordos bipartidários.

- Há algumas razões para temer uma administração mais à esquerda, se pensarmos em Bernie Sanders como eventual Secretário do Trabalho, Elizabeth Warren como eventual Secretária do Tesouro, ou a também eventual aprovação dum despesista Green New Deal.


 (dados da data da tertúlia, podem estar desactualizados à data da publicação deste artigo)



Primeiro foi exposta uma perspectiva económica da nova presidência. Após ter sido referida a irracionalidade do comportamento dos mercados perante o cenário, foi também evidenciada a incógnita quanto ao desafio económico para a nova administração. O actual contexto pandémico contribui para a incerteza do desafio e adiciona complexidade às potenciais respostas.

De seguida foi levantada a questão quanto à efectiva derrota de Trump – não no plano eleitoral, mas no plano social e cultural. A sociedade americana está consideravelmente polarizada e trump, com cerca de 70 milhões de votos, tem a maior votação da história para um presidente em exercício e fica com um capital político significativo. 

A eleição de 2016, e a de 2020, mostraram que a américa é muito mais diversa do que se podia avaliar pelo julgamento da comunicação social, e que os apoiantes de Trump – rotulados como bag of deplorables por Hillary em 2016 – são uma realidade que importa estudar e enquadrar, e que não podem ser ignorados pela elite intelectual e jornalística.

Também se relevou que, em virtude da enorme mobilização e de se ter entendido a importância da elite intelectual na função governativa (que se diluiu em 2016), se elegeu o menos mau pela segunda vez. 

Foi abordada a importância da revolução do gás de xisto como sendo um factor instrumental na política internacional dos EUA.

A eleição com resultados tão próximos – que levaram vários estados à recontagem – evidenciou o novo falhanço de as sondagens reflectirem as sensibilidades existentes na sociedade americana. Trump conseguiu com algum sucesso cultivar a imagem de vir de fora do sistema político-partidário – embora haja relatos de que estaria a sondar as possibilidades de uma candidatura desde a década de 80 do século XX – e trouxe métodos pouco usuais da sua vida empresarial para a governação.

Como encerramento, o moderador designado fez um pequeno balanço da presidência Trump. O já referido capital político – ainda que muitos dos votos que recebeu tenham sido contra os candidatos opositores, e não a seu favor – e as nomeações para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos podem ter impacto prolongado no tempo.

 

 

 

Documentação de apoio:

 

https://www.economist.com/briefing/2020/10/03/joe-biden-would-not-remake-americas-economy?fsrc=scn/tw/te/bl/ed/thepragmatistjoebidenwouldnotremakeamericaseconomybriefing

 

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