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Mensagens

Precisa a nossa Agricultura de mais subsídios?

  São dois assuntos demasiado sensíveis: agricultura e subsídios. Várias pessoas publicaram nas redes a sua indignação e solidariedade para com os agricultores que se manifestaram nos primeiros dias de Fevereiro, cortando a circulação de várias estradas do país. As razões deste protesto são em parte portuguesas: o Governo enganou-se ao inscrever uma área muito pequena (apenas 10 de 460 mil hectares) para reconversão da agricultura convencional em biológica, o que resultou em cortes de 35% nos apoios comunitários a ecorregimes de agricultura biológica e 25% nos de produção integrada. Mas as razões deste protesto são também europeias, com regras ambientais mais apertadas e o fim de subsídios ao gasóleo agrícola ou uma concorrência mais competitiva de produtores sul-americanos. Daí, a mimetização nacional dos métodos e slogans das manifestações em curso noutros países europeus.   As palavras de ordem são dramáticas e o tom chega a ser violento: “sem agricultores não há comida”, “o nosso
Mensagens recentes

Obrigado, Ciganos!

“Então vais escrever um artigo a defender os ciganos? Não te metas nisso!” Pessoas próximas avisam-me, mesmo sabendo que um aviso destes costuma ser incentivo para eu avançar. Mostrei a alguém só este título, de resposta recebi uma exclamação: “que exagero!”. Avanço com ainda mais motivação, mas aviso desde já que o texto não vai ser curto. Dado o assunto em causa, sou apenas forçado a fazer um pequeno preâmbulo, e aproveito esta publicação para não ter de o fazer mais vezes. Preâmbulo: a lei é igual para todos, todos somos iguais diante da lei e a lei deve ser aplicada indiscriminadamente. “Ah, mas há problemas na comunidade cigana” – certo, mas há problemas em todas as comunidades, incluindo Portugal enquanto comunidade. Quem já estudou ou trabalhou na Europa Central e do Norte sabe como podem ser vistos os portugueses – e por vezes basta apenas lá passar de visita. Não é só o então presidente do Eurogrupo Dijsselbloem a dizer que os portugueses gastam o dinheiro em bebidas e mulhere

A legitimidade deste Supremo Tribunal dos EUA

Os juízes do SCOTUS em 2022 - Kavanaugh, Kagan, Gorsuch, Coney Barrett, Alito, Thomas, Roberts, Breyer, e Sotomayor. Existe a possibilidade de, nos próximos dias, o Supremo Tribunal dos EUA reverter as decisões de 1973 e 1992 que sustentam um ‘direito’ das mulheres americanas ao aborto. A propósito, tenho lido vários artigos de opinião que explicam muito bem o que está em causa. Não querendo repetir esses argumentos, gostaria de propor mais um ângulo de análise sobre as correntes de pensamento que têm dominado o Supremo Tribunal dos EUA. Embora haja uma longa lista de razões para o considerarmos um dos piores presidentes da História dos EUA, Donald Trump tomou uma decisão incrivelmente acertada: nomeou para o Supremo Tribunal juízes ‘originalistas’, isto é, magistrados que defendem que as normas constitucionais têm de ser interpretadas com base no propósito original. O Supremo Tribunal é a última instância de justiça nos EUA; os juízes que o integram, conjuntamente, têm a competência d

O nosso momento Goldwater

Olhemos para as eleições presidenciais americanas de dia 3 de Novembro de 1964: o candidato democrata Lyndon B. Johnson (LBJ) derrota o candidato republicano Barry Goldwater com 90,3% no Colégio Eleitoral, teve 61,1% contra 38,5% em votos populares, e ganhou um total de 44 dos 50 Estados. Foi a vitória mais expressiva desde James Monroe em 1820, e os resultados são ainda mais retumbantes se pensarmos como LBJ era visto. Primeiro, sabemos como é difícil substituir uma pessoa popular e LBJ era o vice-presidente que tomou o lugar do amado John F. Kennedy após o seu assassínio em Dallas em 1963; em segundo lugar, LBJ era percebido como sendo um homem demasiado ambicioso, manipulador, rude, inseguro, obcecado em deixar a sua marca na história e ser mais querido que o seu antecessor; por último, à excepção dos 8 anos de Dwight Eisenhower (1952-60), os americanos eram governados por democratas desde 1932. Contra estas probabilidades, LBJ teve uma grande vitória eleitoral e, assim sendo, só no

Uma História de Espanha - Arturo Pérez-Reverte

Autor: Arturo Pérez-Reverte Livro: Una Historia de España Editora: Alfaguara, ano de 2019, 246 páginas (há uma edição portuguesa da  ASA , de 2020)     Arturo Pérez-Reverte (Cartagena, 1951) é membro da Real Academia Española mas também um dos mais lidos e populares autores espanhóis. Escreveu “Las aventuras del capitán Alatriste”, célebres enredos de capa e espada que se passam no século XVII e deram origem ao filme “Alatriste” (2006) com o fantástico Viggo Mortensen no papel de herói. Antes do sucesso literário, Pérez-Reverte viu e viveu muito como correspondente de guerra durante 21 anos (1973-1994) no Chipre, no Líbano, na Eritreia, no Saara, nas Falkland, em El Salvador, na Nicarágua, no Chade, na Líbia, no Sudão, em Moçambique, em Angola, no Golfo Pérsico, na Croácia e na Bósnia.   Não é o primeiro escritor a quem a guerra deu um olhar privilegiado sobre a condição humana – vêm-nos logo à memória Churchill, Hemingway, Dos Passos ou Orwell – e em Pérez-Reverte esse o

Mais revolução, não!

(também publicado aqui , no Observador) Cuba Libre Separados, gosto de um bom rum e por vezes também da Coca-Cola com gelo e limão. Vê-los juntos num Cuba Libre, nem tanto. A meu ver, reduz-se o que há de melhor num e noutro: perde-se a consistência suave do rum e tapam-se os seus aromas mais finos com os grosseiros duma cola que, entretanto, perdeu o seu gás e frescura. Mas quando oiço alguém a dar vivas a “la Revolución!”, o meu primeiro impulso é pedir um Cuba Libre. Tudo é melhor que a revolução, até essa mistura. É verdade que o Cuba Libre é mais antigo que Fidel e remonta ao fim da Guerra Hispano-Americana que em 1898 – ano traumático para Espanha – resultou na perda espanhola não só de Cuba como de Porto Rico e das Filipinas, além de outros territórios menores. Mas por causa da revolução de Fidel sessenta anos depois, a família Bacardi mudou o negócio para o estrangeiro e a empresa Havana Club foi nacionalizada, estando a Coca-Cola e a Pepsi proibidas em Cuba. Por causa do emb

A política portuguesa em 2 cartazes

(também publicado aqui , no Observador) Imagine um cartaz Carlos Moedas é o candidato apoiado por PSD, CDS e outros 5 partidos à Câmara Municipal de Lisboa. Irá enfrentar Fernando Medina, que presidiu à CML nos últimos 6 anos e ainda não apresentou candidatura – apenas marcou posição ao dizer que José Sócrates “corrói a nossa vida democrática”. Nas últimas semanas, Moedas apresenta-se aos lisboetas num cartaz que podemos encontrar pela cidade. Aparece sem gravata mas de braços cruzados, deixando cair uma suposta formalidade para involuntariamente erguer outra barreira entre ele e nós. A fotografia não é tão boa que justifique que a sua cabeça saia da moldura do cartaz, mas é aceitável e o azul sempre transmite serenidade. O mais importante é aumentar o reconhecimento do candidato, missão cumprida. A mensagem é que não é ideal. “Lisboa pode ser muito mais do que imaginas” diz-nos várias coisas: - o candidato quer tratar o eleitor por tu; - ele reconhece que Lisboa até está bem mas que t